terça-feira, 24 de agosto de 2010

Repente

Justificando a proposta de valorizar os artistas locais, o sarau Ágora do mês de Julho, esfolheou os cancioneiros populares da Literatura de Cordel e prestou uma bucólica homenagem aos repentistas oriundos de Várzea Grande: Edmilson Ferreira e Zé Ferreira e ao repentista radicado em Amarante: Eduardo Persa.
Considerações biográficas e amostra poética:

Edmilson Ferreira dos Santos, 37 anos, iniciou na arte da cantoria aos 12 anos de idade, e profissionalizou-se como repentista na cidade de Oeiras- PI, no ano de 1988, ao lado do irmão Zé Ferreira, com quem formou sua primeira dupla e com quem publicou, em 1989, já residindo em Teresina, o livro “A Viagem de Um Matuto”. Desfeita a dupla em 1991, Edmilson Ferreira partiu em busca de novas experiências. Trabalhou em vários programas radiofônicos, nas rádios: Rural de Mossoró, Cuturité, em Campina Grande, Cultura, em São José do Egito. Atuou no filme Muiraquitan, do cineasta Sérgio Bernardes, em Pombal – PB, em Maio de 2002, e no projeto Alvorada do governo do estado do Pernambuco, em convênio com a UNESCO, em 2003.
A convite da associação CORDAE/La Talvera, participou de uma temporada de cantoria na França, em outubro de 2001, atuando em cidades como: Marseille, Toulouse, Albi, Bordeaux e Paris. Possui trabalhos publicados nos seguintes livros: “A fortuna de Repente, De Repente Cantoria, Versos Itinerantes, Anais do Grande Encontro de Poetas e Repentistas, Uma Noite Estrelada de Poesia em Pombal, Sonetos de Cantadores, Brazilian Music: Northeastern Traditions and the Heartbeat of a Modern Nation e Thèse pour lê DOCTORAT DE L’UNIVERSITÉ BORDEAUX 2”.
É formado em Letras (português, inglês e francês), pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e reside atualmente na cidade de Recife-PE, onde atua em parceria com Antônio Lisboa.

FAZENDEIRO VIRTUAL

Como é ótimo brincar de fazendeiro
ter cavalos, galinhas e ovelhas
peixes, pássaros, jardins, flores e abelhas
onde o próprio cenário exala cheiro

Quem vier visitar faz paradeiro
num cenário poético sem parelhas
harmonia do piso até as telhas
onde as coisas existem sem dinheiro

Essa simples fazenda me parece
o refúgio da vida sem estresse
e o abrigo da biodiversidade

Quero nela entender cada animal
começar fazendeiro virtual
e terminar fazendeiro de verdade

José Ferreira dos Santos, “Zé Ferreira”, canta profissionalmente desde os 16 anos de idade. Em dupla com o irmão Edmilson Ferreira, foi campeão estadual num dos maiores festivais piauienses de repentistas, no ano de 1989, e em 2002 participou do XVII torneio de repentistas de Olinda- PE, com os maiores cantadores do nordeste, obtendo mais uma vez o primeiro lugar. Participou do projeto Alvorada do governo do estado de Pernambuco, em convênio com a UNESCO. Trabalhou em várias emissoras de rádio, como: Rádio Rural de Mossoró, Rádio Sertões, de Mombaça, no Ceará, dentre outras. Percorreu o país de ponta a ponta, divulgando a cantoria de viola.
Mantém hoje, um programa na Rádio Vale do Canindé, em Oeiras- PI, onde reside.

SONETO DE MASTURBAÇÃO

Entre quatro paredes do meu teto
sufocando o desejo reprimido
sinto-me, pela falta de afeto
um escravo do sexo proibido

Faço a imagem do corpo que despido
deixaria o meu ego mais quieto
ligo logo o chuveiro e vou direto
ao ponto sensível da libido

Quando a mão oscilante intensifica
a saliva amornada lubrifica
o invólucro do órgão genital

E após cada sessão de fantasia
reconheço que fiz com quem queria
a melhor relação sexual

Eduardo de Magalhães de Sousa Persa nasceu no Rio de Janeiro, a 17 de Agosto de 1956. Ainda aos 14 anos de idade, inconformado com a vida burguesa, abandonou a família, vindo a instalar-se nos arredores de Amarante, onde vive até hoje. Apaixonou-se pela Literatura de Cordel. Sua educação literária é fruto unicamente de suas leituras e de suas reflexões. Rebelde, Eduardo tornou-se severo com as mudanças de vida, é apenas lavrador, lavrador da terra e das palavras.

O AUTODIDATA

Na noite severa, coberto de estrelas,
ainda cansado do campo, da lida,
nas páginas velhas, à luz de umas velas,
do mundo distante, vou lendo essa vida.

Daqui do meu rancho tão calmo e sereno,
conheço seus casos, prazeres e dores.
ensinam-me tudo do mundo pequeno
meus doces amigos, fiéis professores.

Eu saio em viagem por eras antigas
mergulho pasmado também no presente;
no triste passado sei bem das intrigas
e no nosso tempo, do homem carente;

Eu sei das conquistas, das guerras banais,
do Deus que protejo, dos deuses antigos,
de acordos formados, de quebra de paz;
ensinam-me tudo meus doces amigos.

Não quero na vida senão a palavra
contida nos livros, jornais e revistas,
a enxada pesada na terra, que lavra,
cantar com as rimas as minhas conquistas.

Meu campo florido, meus livros tão belos,
meu Deus adorado – meu doce destino! –
eis quanto consolo no meu peito tê-los!
com eles aprendo, com eles ensino.

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