sexta-feira, 8 de abril de 2011

ÁGORA
Bárbara Sá, Edilberto
Vilanova, Jota Jota, João de Carvalho Fontes, Lameck
Valentim, Reginaldo Leal, Rogério Newton, Rogério
Freitas, Stefano Ferreira e Vivaldo Simão
Ágora, na Grécia antiga, era a praça onde os cidadãos se
reuniam para discutir os problemas da coletividade. Ágora,
agora, é a praça do Clube Ágora, que tem como objetivos
gerais: revelar, resgatar e prestigiar valores culturais
piauienses. Especificamente, objetiva editar, divulgar,
dignificar a poesia piauiense, interagir escritores/poetas de
Teresina e do interior do Piauí e promover a interação de
autores piauienses com professores, alunos e cidadãos
amantes da arte e da cultura.
Segundo a opinião de estudiosos, a Literatura piauiense é
um conceito em formação. "Literatura é um conjunto de obras
de arte, em prosa e verso. Arte quer dizer emoção estética,
transcendência ou recriação da realidade, estilo plástico e,
sobretudo, capacidade de comover o espectador” (O.G.
Rego de Carvalho). O círculo de uma escola literária não se
fecha com a publicação de uma obra. É necessário haver um
sistema literário, com a publicação de obras relacionadas
entre si e um público leitor.
O Ágora tem como patrono o poeta modernocontemporâneo H. Dobal, que praticava uma poesia
inteiramente contrária aos cânones estabelecidos da poética
tradicional vigente na época.
Há alguns anos, o sarau lítero-musical Ágora acontece
em Teresina, agregando no universo da literatura de
expressão local, poetas dotados de relevante e instigante
produção artística, exploradores e desbravadores do mágico
e hermético território da palavra.
No 41º Encontro Lítero-Musical Ágora, o sarau é o
encontro de poetas de Oeiras:
com poetas e
cidadãos amantes da poesia.
João de Carvalho Fontes


Bárbara Sá
Anna Bárbara Alencar de Sá e Freitas nasceu na
Velha Cap em 12 de março de 1989. Estudou na
Sociedade Educacional Paulo Freire (Oeiras-PI) e no
Instituto Dom Barreto (Teresina-PI). Em 2001 aportou nas
águas do Velho Monge, mantendo residência na
“Quenteresina” desde então.
Por ter brotado em terras Mafrenses não tinha como fugir da
maluquice poética.
É assim com quem bebe nos sonhos e nas águas do Mocha.
Anna Bárbara de Sá teceu versos em vários blogues,
atualmente escreve em .
Em 2010 graduou-se em Direito pelo Centro de Ensino
Unificado de Teresina - CEUT.
É advogada e poetisa.

O Menino e a Janela
Pela janela estática,
passa o menino correndo
[todo dia]
A campainha toca,
ele corre,
a aula urge,
a construção do pátio se ergue.
[ele sonha em jogar bola].
A sopa ferve
na cantina, na panela.
a batatinha espalha a rama no chão
da horta
e a vida passa,
e a vida padece,
aos olhos da janela morta.

Teresina
na tarde
passa
o dia
quente
arde
na terra
inté a serpente
semente
do sol
do céu
do tempo
desalento
fervente
pungente
emerge
nas cores do fosco
lusco
fusco
a terra
da gente
05
na beira
da ribeira
de repente
corrente
o tempo para.
e
no banho
de rio
de sol
de céu
fervente
a cidade refresca a mente.

Vivaldo Simão
Vivaldo Ferreira Simão, 27 anos, natural de Crato – Ce,
vive em Oeiras desde os 4 anos de idade, sendo portanto filho
adotivo da velha capital. Formado em Letras/Português, atua
como professor da rede estadual de ensino e é também
músico, compositor, jornalista amador e poeta. Ao lado dos
amigos Edilberto Vilanova e Rogério Freitas, mantêm o blog
d e p o e s i a s : O B a i ã o d e t r ê s
( ). Suas influências na
poesia vem de Drummond, Mario Quintana, Affonso Romano
de Sant'anna, do Neoconcretismo e das letras de Música
Popular Brasileira.

Poema da amiga ausente

A imagem da imensa ausência tua
Me acompanha na viagem
Levo de volta, na bagagem, sólida saudade
Solidão que eu quis minguar
com teu abraço
Eu era a visita esperada
e esperei você
Como quem, insone, espera o dia
E minguei
Ali silente, em agonia
Doente pela ausência do signo de luz
Ao qual me conduz
O teu nome.

As pedras do novo tempo (Versos para um tempo de
meninos fendidos)
A Drummond

Carlos
No espaço secular que nos separa
Deu-se a antimágica,
Apoética semântica,
E deslapidaram-se as pedras do meu tempo
Tempo de palpáveis pedras despidas de abstração
Endurecidas pela feiura de um púbere século
De meninos emuralhados
Alimentando internos cães famintos
De dez em dez minutos
Que erigem, no espaço outrora peito, novas Hiroximas
Irradiando a cancerígena escassez de espírito
A rosa do meu povo fenece.
E a aridez de uma nova raça promove o auto-holocausto
Um estado novo de meninos encanecidos.
Ensandecidos.
Incandescidos.
Tempo gauche
Em que os homens entortam anjos

Rogério Freitas
Rogério da Silva Freitas nasceu a 13 de maio de 1983
em São Bento, município de Oeiras. Aos sete anos de idade,
veio para cidade e iniciou seus estudos na Unidade Escolar
Costa Alvarenga. Seu gosto pela literatura proveio das
cantigas tipicamente nordestinas que sua mãe ouvia pelo
rádio. Métricas e rimas fazem parte de sua poesia, porém ele
não abre mão da poética moderna, oscilando entre o
decassílabo e o verso livre.

Coisa antiga

Nem bem nasci
E já parto
Nem bem nasceu
E já parto
Nem bem nasceu
E já Parto
Minha mãe não tinha noção
De planejamento familiar.

Canção Ébria
Último gole
As coisas todas diáfanas:
Tudo um sonho!
Agora nem pieguices,
Nem dores,
Nem remorsos,
Nem preocupações
Livre de todos os males:
O corpo leve
A mente vaga
Passos descompassados
Entre faróis e buzinas
Pisadas em poças de lama
Tropeços e mais tropeços
O sono pesado,
O desequilíbrio,
A queda,
A cama na calçada

Stefano Ferreira
Francisco Stefano Ferreira dos Santos, oeirense,
licenciado em Letras-português e bacharelado em Jornalismo pela
Universidade Estadual do Piauí, ex-secretário de cultura de Oeiras,
contista, poeta e um dos autores do livro “Passos do Bom Jesus -
Narrativas de fé”. É professor da Uespi - Campus Professor Possidônio
Queiroz e da faculdade R.sá, em Picos-pi. Pesquisador dos processos
folkcomunicacionais do sertão do Piauí e assina o blog de experimentos
poéticos “Acor da chita”: ( ).

Poeminha Ensolarado
Aonde teu sorriso brota
Meu peito é terra fértil
Pronta pra colheita.

Poeminha Recolhido

Lá fora
a puta lua
anda nua
nas ruas
curvas
nos becos corre e se espalha
sem a atenção alheia
não existe uma centelha de vida noturna

Lameck Valentim
Carlos Lameck Valentim nasceu em Oeiras em 1976.
Desde cedo mostrou interesse pelas artes, sobretudo o
teatro. Teve experiência com outras artes e com circo.
Estudou Filosofia, Direito e Terapia Ocupacional e cursa o
último bloco do curso de Letras pela UESPI. Em Oeiras
fundou o grupo IPA de Teatro onde montou vários
espetáculos, tendo participado de vários festivais no Piauí,
Ceará, Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, nos quais
conquistou diversas premiações. Morou em São Paulo por
cinco anos, onde participou de alguns grupos teatrais e
realizou diversos cursos e oficinas. De volta a Oeiras fundou
a Companhia Teatral Os Apresentados. Escreveu vários
textos teatrais, e o encontro com a poesia se deu devido à sua
paixão pela literatura e da observação que faz das pessoas
no dia-a-dia. Seus versos e textos podem ser lidos no blog A
baixa do Cururu:
www.abaixadocururu.blogspot.com

Vou me jogar
Esqueço o medo,
Hoje me jogo,
Me entrego,
Os telhados de lógicas estúpidas,
E as minhas regras,
Se perderão no calor do teu corpo,
E o teu sussurro no meu ouvido será minha felicidade,
E vejo o teu sorriso,
Pedaço de eternidade gravada na minha memória.
Vem.
Adestra esse monstro que está habitando em mim.

O Silêncio
O coração engole as palavras a conta-gotas
Ingerindo desordenados sentimentos
Mistura-se a dor, a insegurança
À insegurança, o espelho
Ao espelho, sonhos envelopados.
O nada em ebulição
Escritas em tinta branca
Indagações cobertas por creme cicatrizante
Numa cura superficial.
Nem mesmo a arte de plasmar
Tem o condão de desarraigar
A marca dos grilhões do medo
Das fugas, das noites insones
Da lâmina afiada na bainha das próprias palavras.

João de Carvalho Fontes
João de Carvalho Gonçalves Fontes nasceu na
Fazenda Santo Antônio, onde viveu os seis primeiros anos,
que influenciaram sua poesia, em Oeiras- PI, em 14.11.1964.
É Médico graduado na Universidade Federal do Piauí, com
especialização em Neurologia Clínica, Eletroneuromiografia
e Eletroencefalografia na Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (Hospital Pedro Ernesto) e Universidade Federal
Fluminense(Hospital Antônio Pedro). Publicou os livros:
Murmúrios do Mocha (Poesias) e Técnicas de Aprendizagem
( D i d á t i c a ) , e m 1 9 8 7 ; Í t a c a s ( P o e s i a s ) , e m l 9 9 4 ;
Aurora(Poesias), em l997; As Feiuras de Toninho(Contos),
em 2009. Dirigiu em 1986, juntamente com o seu irmão Assis
Carvalho, o jornal O Mafrense. Atualmente, coordena o
Projeto Literário Ágora. Na área médica, é autor dos
trabalhos científicos: Infarto Medular na Gravidez;
Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva Associada a
SIDA; DOENÇA DE ALZHEIMER, Diagnóstico, Tratamento,
Condução; Demência e Fatores de Risco; Demência
Semântica; Perfil Epidemiológico e Causas de Suicídio em
Oeiras. Presidiu durante oito anos, a Associação Brasileira de
Alzheimer-Regional Piauí. Atualmente, é membro titular da
Academia Brasileira de Neurologia e professor titular de
neurologia para medicina da NOVAFAPI.

Depressão
A Belerofonte
o sol desfaz-se ao longe
no peito do herói anoitece sem estrelas
no escuro da nuvem fez-se o momento
e em cada passo do passado busca a razão do presente
é como se andasse em círculo
fugindo dos homens
a alma a doer por dentro
Deus, onde o desafino tornou sua vida destoada?

(Voz e Verso, inédito)

Encontro


A Fernando Pessoa
e Walt Whitman
de frente um para o outro
estamos aqui
despidos de toda mentira
não há mais nada a dizer
melhor é sair por aí
de mãos dadas
dançando o universo na alma

(Voz e Verso, inédito)

Jota Jota

Jota Jota Sousa é o nome literário de João José de
Sousa Filho. Oeirense do Piauí, nascido aos quatorze dias
de um outubro do ano de 1962. Sexto filho, de um total de oito
de Maria de Nazaré de Sousa e de João José de Sousa,
ambos já falecidos. De muito cedo tomou gosto pela poesia,
movido que foi pelo contato com a poesia de Manuel
Bandeira, como assim ele próprio descreveu em A QUEM
INTERESSAR POSSA texto introdutório de seu primeiro
livro DO OUTRO LADO DA HISTÓRIA, publicado no ano de
2005: “Foi numa tarde de domingo que tive meu primeiro
contato com a poesia escrita. Eu ,menino de 11 anos quase,
recebi da saudosa Irmã Caldas, a incumbência de distribuir
algumas revistas para uns poucos assinantes daquela
época. Na Praça do Perdão, hoje Costa Alvarenga, movido
pela curiosidade quase inocente, tendo apenas o silêncio de
uma tarde de domingo e a aconchegante sombra dos
Tamarindeiros, ousei abrir um daqueles exemplares e
defrontei-me com “O Bicho”. O preciso poema de Manuel
Bandeira:
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão.
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Sacudido até a alma, passei então a procurar o poeta menor e
o que mais de real ele tinha a dizer-me. E foi buscando-o que
fui encontrando outros. E nestes outros estava “Rilke”. O
20l a c o n i s m o d o a u s t r í a c o R a i n e r M a r i a R i l k e :
“Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo.
Investigue o motivo que o manda escrever; examine se
estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua
alma. Confesse a si mesmo: Morreria se me fosse vedado
escrever? Isto acima de tudo; pergunte a si mesmo na hora
mais tranqüila de sua noite: Sou mesmo forçado a escrever?
Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa,
se puder contestar aquela pergunta severa por um forte e
simples “sou”, então construa a sua vida de acordo com esta
necessidade”.
E eu comecei a escrever”
É autor do livro de crônicas MEU PEDAÇO DE CHÃO E
MINHASANDANÇAS.
A sua poesia lhe rendeu alguns títulos e menções, como o
poema CRISE DE IDENTIDADE no ano de 1986 em certame
literário promovido pela revista Brasília do Distrito Federal.
Logrou o primeiro luar no concurso literário promovido pelas
edições AG de São Paulo com as crônicas PAREDES DA
SOLIDÃO e ONZE DE OUTUBRO, estas fazem parte da
Antologia HORIZONTE NOTURNO editada pela editora
promotora do evento. Recebeu a MEDALHA DO MERITO
RENASCENÇA, honraria concedida pelo Governo do Estado
do Piauí. De volta a sua terra natal, idealizou e apresenta o
programa radiofônico PLANTÃO SOCIAL e trabalha na
publicação de seu terceiro livro SEARAS E VEREDAS.
Seus trabalhos literários podem ser conferidos através
d o s s í t i o s e l e t r ô n i c o s e
A l ém d o p o r t a l d a UNI ÃO .
BRASILEIRADOS ESCRITORES onde é filiado

Viagem

Melhor e mais prudente senhora
É que viajes comigo.
Não ao futuro
Como comumente desejam os enamorados
Mas, ao passado.
Feche os olhos senhora
Não sintas receio algum
A rota, conheço bem.
Abra os olhos agora senhora
Procures o menino que corre
Desafiando o futuro
Sob seus pés há tantas certezas
Sobre suas mãos um punhado de sonhos
Percebas em sua boca
O fervor da oração.
Um menino que ofegante
Chega ao riacho
Um riacho que canta
Uma mulher que chora
Vezes outras são as águas que choram
E a mulher um triste canto lança.
O menino que se senta no lajedo
E um peixinho vem beijar-lhe os pés
Ao longe, nos carnaubais canta o bem-te-ví
Como a dizer-lhe:
Assim será a vida
O canto a revezar-se com pranto.
Melhor e mais prudente senhora
É que regresses comigo
Rever o reisado de Mane-Já-Qué
Quem sabe o de Quelé?
Correr dos caretas
Da fome do Jaraguá
E depois já cansados
Sentaremos sobre os degraus da velha matriz
Confidenciarei que num recanto daquela praça
Existe ainda uma rosa
Regada todos esses anos com o sal de minhas lágrimas
(Ela, não a quis senhora!)
E só tu a partir de então
Serás digna dela
Pela coragem tamanha deste regresso.
Num domingo iremos ao circo ao lado da igreja
De Nossa Senhora da Conceição
Para que o palhaço “Fusquinha”
Recomponha em nós o riso contido
E a trapezista que se exibe
(A qual desejei silenciosamente)
Quebre em nós o receio e noção do limite.
Melhor e mais prudente senhora
É que viajes comigo
Não ao futuro
Como comumente desejam os enamorados
Mas, ao passado.
Feche os olhos senhora
Não sintas receio algum
A rota, conheço bem.
Abra os olhos agora senhora
E procures o jovem que caminha
Sob seus pés ainda há certezas
Suas mãos, porém, já um tanto vazias
Em sua boca
A oração confunde-se com poesia.
Um jovem que vertiginosamente chora
(Sua mãe dormiu e não quer acordar!)
É desde então este travo
Desde então este nó
Desde então este meio riso.
Subiremos ao leme
Teremos a cidade sob nossos pés
E quando a noite for caindo
E caindo sobre nós a tentação
Deita senhora!
E nos demos o orgasmo
Que nunca tivemos.
E ofegante
Recomponhas-te depois
Com o cheiro bom e balsâmico
Dos alecrins do campo.
Por fim eis o homem, senhora!
Em busca da certeza perdida
Do sonho perdido
Da oração perdida.
Entenda-o senhora,
Se por ventura se sentar no meio fio
A mirar a rua vazia.
Ajude-o a reencontrar o menino,
O jovem, parte do homem.
Por fim eis o homem
E caberá a ti o novo convite
Delinear novos caminhos
Pegá-lo pelas mãos
E levá-lo para uma nova viagem.
Agora ao futuro, senhora, ao futuro.
Como comumente desejam os enamorados.

Poema Vermelho

Há um poema entalado em minha garganta
Sem forma
Sem estilo
Esta preso implorando sua hora.
Às vezes sacode-me
Dói-me
Grita-me das profundezas do inconcebível.
Roga-me
Para que eu não o leve a um outro plano.
E não posso mais escondê-lo
Nem mais contê-lo.
É um poema intrigante e
Temo o seu nascer.
Eu tenho em mim
Um poema que é uma bomba
Ou é uma bomba em forma de poema.
Gerado no calor da revolta
Forjado no desespero do ruir dos sonhos
Arquitetado na intolerância.
Sabes lá o que é sair para colher a flor
E voltar com as mãos encravadas de cardos?
Sair para o banho nas águas claras da esperança
E voltar contaminado com o limo escuro da traição?
Trago comigo um poema esquisito
Intrigado pelo que se tornou mutante
Entre o rubro da rosa esperança
E o brilho fugaz do apagar de uma estrela cadente.

Reginaldo Leal
Reginaldo Leal nasceu em Jerumenha, e foi adotado
por Oeiras desde a infância. É bancário, poeta e letrista.

Sinais

a flora
Inteira e minguante
eu vi:
há rastros
de homens e máquinas
nos quintais da fauna

Um barco para o arco-íris

à deriva
o mar persegue o destino
do barco
o sol
à espreita
prepara um porto:
tece um arco-íris
para a lenda da tarde

Rogério Newton

Nasci em Oeiras, alguns anos vivi em Oeiras, por isso fui
triste, hoje vendo alegria. Contribui com o nosso belo quadro
social e literário, publicando quatro livros: Ruínas da memória
(1994), Pescadores da Tribo (2001), Último Round (2004) e
Conversa escrita n'água (2006). No final da década de 80,
editei com amigos em Oeiras o jornalzim O Beco. Hoje
caminho silente, leve coração entre ruínas.

poética

aqui acolá
um verso um texto
mas olhe
não sou bissexto
sou campeão de poemas ao cesto

(Último Round, 2004)

no quadro negro
escrevo a giz
sou feliz

(Último Round, 2004)

Edilberto Vilanova

Edilberto Vilanova integra juntamente com os amigos e
poetas de Oeiras Vivaldo Simão e Rogério Freitas o blog
Baião de Três, que funde em sua estética diferentes estilos
poéticos. Dentre os seus trabalhos no campo da Literatura,
destaca-se o livro de crítica literária “Aterceira Margem do Rio
Subterrâneo de O.G. Rêgo de Carvalho e a peça de Teatro “O
Pequeno Príncipe do Sertão. Conhecedor da obra completa
do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, Edilberto
o aponta como influência da sua atual produção poética,
assim como o poeta piauiense H. Dobal, que, segundo ele,
muito o tem ajudado na busca de uma linguagem definida e
na tentativa de escrever poemas concisos.

A louca
Não trazia nada nas mãos escalavradas
a não ser gestos inconfidentes
a não ser a calidez das estradas
Trazia grudado ao sapato:
sóis e sangue,
mangues, mares e sertões
Trazia no corpo maculado
vestido em farrapos
a escassez de gente
E sobre os ombros cansados
um alforje de bugigangas
sem serventia
Trazia grudados ao peito:
medo e segredo
dores, canseiras e solidões
Desconhecida de si
achara-se nos caminhos da loucura
perdera o juízo
e nunca mais se julgara

Prece de inverno

Que a grávida nuvem paira suave chuva
para fertilizar o cio da terra
e que do seu ventre vegete
sempre verde e sem mistérios
a vida em sua forma inaugural
deslizando inocente
nos carrosséis do tempo
como criança e fruta recém nascidas
verdejando encanto
como o espanto do pássaro que paira
não reconhece mais sua paisagem habitual
e encantado presta suas preces num musical

Um comentário:

  1. Que orgulho tenho de ter a amizade de Rogério Freitas e Edilberto, pessoas q estiveram no meu dia a dia. Que não venha somente sucesso, mas o reconhecimento de grandes poetas vivos. Parabéns a todos os poetas piauienses.

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