O Sarau Ágora, deste mês de Janeiro, prestou homenagem às mulheres da literatura piauiense, que tiveram seus poemas publicados na seleção de poemas da antologia "Escritoras Piauienses do século XIX à contemporâneidade", organizada por Algemira Macedo, Olívia Candeia e Marleide Lins.
A seguir um texto da poeta e editora Marleide Lins e a amostra de alguns dos poemas que foram publicados na antologia Letra de mulher, no 39ºSarau lítero-musical Ágora, que aconteceu nesta última quinta-feira,27 de Janeiro de 2011, no espaço cultural Boi Bumbá :
Editar é dar a luz - Luzes sobre as poetas piauienses
E assim, Algemira Macedo, Olívia Candeia e Marleide Lins, fizeram nascer, em 2009, a Antologia de Escritoras Piauienses, do século XIX à contemporaneidade, projeto editorial em parceria com a FUNDAPI e a FUNDAC. Este trabalho evidencia a expressividade qualitativa e quantitativa de autoria feminina no Piauí, através do registro da participação da mulher neste processo literário, pretendendo contribuir para a ampliação de estudos críticos que contemplem as escritoras piauienses, durante muitos anos, ignoradas pela historiografia literária do estado.
O corpo desta obra revela a alma, os anseios, sentimentos e pensamentos da mulher. Pois, a literatura reflete, fielmente, o que é pensado sobre si mesmo e sobre os outros, o mundo micro e o macro, em um determinado período e espaço. Preenche-se, portanto, uma lacuna e valoriza-se a participação da mulher no contexto piauiense, considerando-a, também a protagonista da nossa história.
Para participar da produção editorial deste conceituado sarau, selecionamos 20 (vinte) poemas: 2 (dois) de duas poetas nascidas no sécula XIX, Luiza Amélia e Izabel Vilhena; E 18 (dezoito), de 9(nove) representantes do século vinte à contemporaneidade, Anna Miranda, Bernadete Ferraz, Cláudia Simone, Fátima Castelo Branco, Graça Vilhena, Keula Araújo, Marleide Lins, Nette Alencar e Olívia Candeia. Agradecemos ao convite do sensivel poeta e produtor cultural João Carvalho, pela oportunidade de ampliar a divulgação e a circulação desta obra.
POEMAS:
BERNADETE FERRAZ
Rasteira
Até então não vira
O quanto a vida vira
Em um segundo,
Quando sem direito algum,
Alguém revira nosso mundo.
CLÁUDIA SIMONE DE OLIVEIRA ANDRADE
Tenho pena de todos os poemas
que antes mesmo de nascer
anunciam o crepúsculo e morrem
_mera ideia sem corpo
Tenho pena dos meus
e dos teus
perdidos no caminho
GRAÇA VILHENA
Revelação
No corpo da noite
o silêncio é cicatriz
à luz de velas
meus olhos velam tua ausência
doem como os barcos
tristíssimas velas
no horizonte do meu quarto
KEULA ARAÚJO
A latinha da costura
Na latinha verde
dos apretechos de costura
as flores apagadas pelo tempo
como não se apaga sua lembrança em mim
De cada carretel
desfio uma cor
num jeito de te rebordar
ponto a ponto
aqui de novo
NETTE ALENCAR
Na escuridão
dei asas...
amei a lua
fui tua
e acordei no celeste chão
Tal como a lua,
em fases: nua,
desnudei a face
criei asas
e virei ave de arribação
MARLEIDE LINS DE ALBUQUERQUE
Se se seca
feito terra
que se quebra
por si só
Perde-se
a água pura
ligadura
ser-se: pó
OLÍVIA CANDEIA
Rubra pétala
em flor aberta
Nua, a flor espera
Gemendo ao vento
Pétala macia e cálida
Bailando no tempo...
(Des)petalada:
Oh, jardineiro, onde estavas?
FÁTIMA CASTELO BRANCO
Hoje senti uma vontade...
de recitar um poema aos teus ouvidos
recitei-o ao vento
sempre mais presente
ANNA MIRANDA
Circunferência
Deus me fez mulher
mas dou pernada
No homem que achar que eu vou ser dele.
Pertenço a mim
Fui delimitada em território e espaço
Desde sempre.
Circunscrita nas veias
Do meu próprio sangue
Implantada no espaço
Da minha própria carne
Não sou rei. Nem rainha
sou de mim
e de nada serei
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
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